Gestão Baseada em Valor: O Genuíno Lucro que a Contabilidade Não Mostra
No mundo dos negócios, somos constantemente bombardeados por métricas de desempenho. Faturamento, market share e, sobretudo, o lucro são considerados os pilares que definem o sucesso de uma empresa. No entanto, será que essas métricas, por si só, contam a história completa? Uma análise mais profunda revela que a aparente solidez dos resultados financeiros pode esconder uma realidade menos promissora, onde o crescimento do lucro não se traduz necessariamente em criação de valor.
Para entender essa desconexão, precisamos primeiro distinguir três conceitos fundamentais: preço, lucro e valor.
O preço é o que se paga por um bem ou serviço. É uma transação pontual, o valor de troca de um ativo em um dado momento. Já o lucro, a métrica contábil mais venerada, mede o excesso de receitas sobre os custos e as despesas. Apesar de sua importância, o lucro possui limitações significativas. Ele não incorpora o risco do negócio, ignora o custo de capital dos acionistas, é apurado pelo regime de competência (não representando o fluxo de caixa disponível) e, crucialmente, desconsidera o valor do dinheiro no tempo.
É aqui que o conceito de valor se torna o divisor de águas. O valor transcende a simples contabilidade. Ele não é uma medida de quanto dinheiro entra ou sai, mas sim um reflexo da riqueza real que uma empresa gera. O valor só existe quando os retornos de um investimento excedem o custo de capital, que representa a remuneração mínima exigida pelos detentores desse capital, sejam eles acionistas ou credores.
Em outras palavras, o valor é o resultado de um negócio que consegue pagar todas as suas contas e ainda remunerar de forma justa o capital que o mantém funcionando.
Dentre as inúmeras formas de avaliar o desempenho de uma companhia, a Gestão Baseada em Valor (GBV) busca capturar esse "lucro genuíno". Ao focar na criação de valor, a GBV não se contenta com a linha final do demonstrativo do resultado. Ela exige que, antes de se declarar qualquer lucro, todos os custos sejam computados — incluindo o custo de oportunidade do capital próprio.
Este artigo busca explorar como a Gestão Baseada em Valor se diferencia das abordagens tradicionais e por que ela é a bússola mais confiável para guiar uma empresa em direção a um crescimento sustentável e lucrativo.
A criação de valor não é um evento casual, mas sim o resultado de uma combinação estratégica de fatores e decisões que a empresa aciona de forma deliberada. Enquanto o lucro contábil foca em resultados passados, a Gestão Baseada em Valor (GBV) olha para frente, identificando e otimizando as alavancas que realmente impulsionam a riqueza. Entender esses direcionadores de valor é o que permite transformar a teoria em ação.
A GBV vai além dos números, transformando a cultura corporativa. Uma de suas propostas é a descentralização da tomada de decisões. Em vez do tradicional modelo de comando "de cima para baixo", a GBV habilita os gestores de todos os níveis a agirem como verdadeiros proprietários de suas áreas. As métricas de criação de valor são disponibilizadas como um guia, permitindo que cada responsável pelas áreas administrativas e fabris tome as melhores decisões, alinhadas com o objetivo maior de criar valor para a empresa.
Esse processo de criação de valor é contínuo e se inicia no planejamento estratégico, onde a empresa identifica suas vantagens competitivas. É nesse estágio que se busca o diferencial capaz de oferecer uma taxa de retorno superior ao custo de oportunidade do capital. Essa visão estratégica se traduz em ações formadas pela combinação de diversos fatores e estratégias acionadas pela empresa, como aumento das receitas, ciclo financeiro, giro dos investimentos, planejamento tributário, margens de lucro e desempenho operacional, retorno dos investimentos, estrutura de capital, entre outros direcionadores de valor.
Ao descentralizar e alinhar as decisões com as métricas de valor, a GBV busca alinhar os interesses de todos os empregados com os interesses da empresa e de seus acionistas. Todas as pessoas, em suas diferentes hierarquias, participam ativamente desse processo. Para reforçar esse alinhamento, é comum que uma remuneração variável seja negociada com participação no valor criado, incentivando a colaboração e o foco no crescimento sustentável da organização.
Em essência, a Gestão Baseada em Valor unifica todos esses elementos do operacional ao financeiro, do estratégico ao cultural em uma única visão. Ela move a gestão de uma mentalidade de "maximizar o lucro" para uma de "maximizar o retorno acima do custo dos capitais (próprio e de terceiros)", construindo não apenas lucros efêmeros, mas sim uma riqueza duradoura para seus acionistas e para a sociedade como um todo.
A Gestão Baseada em Valor (GBV) redefine o sucesso corporativo ao ir além das limitações do lucro contábil. Ela propõe que a criação de riqueza genuína ocorre somente quando o retorno sobre os investimentos supera o custo do capital. Ao alinhar a estratégia, a cultura e as operações com essa visão, a GBV descentraliza a tomada de decisões e capacita colaboradores a agirem como verdadeiros agentes de criação de valor. Em suma, a GBV norteia a empresa em direção a um crescimento sustentável, garantindo que o sucesso de hoje se traduza em riqueza duradoura para o amanhã.