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DIP Financing: como transformar financiamento em instrumento estratégico de reestruturação

Descubra como usar o financiamento DIP como um instrumento estratégico de reestruturação empresarial, alinhando viabilidade, riscos, governança e execução do plano de recuperação judicial.

 

Quando falamos em financiamento DIP (DIP Financing) dentro de um projeto de recuperação judicial, não estamos tratando apenas de uma linha de crédito. A proposta é enxergar o DIP a partir de uma visão prática e integrada, baseada na experiência do dia a dia da reestruturação.

Essa visão considera alguns elementos essenciais para entender a aplicabilidade do financiamento DIP dentro de um projeto de reestruturação:

- A sua viabilidade do projeto de reestruturação, do diagnóstico inicial ao plano de recuperação judicial e sua execução, incluindo a capacidade de geração de valor (ROP > WACC);

- Os riscos envolvidos;

- As formas de mitigar esses riscos;

- O papel dos agentes de reestruturação na condução desse processo.

É justamente a combinação entre viabilidade, riscos, mitigação e atuação dos profissionais de reestruturação que faz com que o financiamento DIP se torne um instrumento estratégico e efetivo dentro de uma recuperação judicial.


Financiamento DIP como instrumento estratégico de reestruturação

Ao falar em DIP Financing, é comum associá-lo apenas à necessidade de caixa emergencial. Porém, dentro de um projeto de reestruturação de empresas, o financiamento DIP se torna um instrumento estratégico porque:

- Busca garantir a continuidade operacional quando a empresa já não tem capital de giro;

- Preserva valor como going concern;

- E permite que o plano de recuperação saia, de fato do papel.


Na prática, o financiamento DIP reorganiza temporariamente a estrutura de capital, dando fôlego para que a empresa atravesse o período mais crítico da crise. Em um contexto de recuperação judicial, isso significa criar espaço para que as medidas previstas no plano possam ser executadas.

 

Viabilidade econômico-financeira e geração de valor

Quando tratamos de viabilidade econômico-financeira dentro da reestruturação de empresas, estamos falando da expectativa de que o projeto de reestruturação seja capaz de construir um novo cenário de viabilidade. Esse novo cenário tem como referência a geração de valor, em que a relação entre retorno e custo de capital seja positiva (ROP > WACC).

Ao mesmo tempo, antes de discutir geração de valor no longo prazo, é preciso olhar para a viabilidade financeira no curto prazo. Isso significa analisar se a empresa terá capacidade de honrar seus compromissos, incluindo o próprio DIP Financing.

Essa análise passa por:

• Projeções realistas de fluxo de caixa, alinhadas à operação e à realidade da empresa;

• Análise de sensibilidade, avaliando o impacto de mudanças em premissas importantes;

• Cenários de stress, que permitem antecipar como choques negativos podem afetar a capacidade de pagamento;

• Projeção de uma estrutura de capital compatível com a operação, para que o nível de endividamento faça sentido dentro do negócio.

Em síntese, não há financiamento DIP saudável sem um olhar rigoroso sobre viabilidade econômico-financeira e geração de valor.

 

DIP Financing e Plano de Recuperação: caminham juntos

Em um contexto de recuperação judicial, é fundamental compreender que o financiamento DIP e o plano de recuperação e de reestruturação não são peças isoladas, eles caminham juntos. É como se o plano fornecesse o caminho estratégico e DIP o combustível necessário para alcançá-lo.

Um plano de recuperação que prevê o uso de DIP Financing precisa deixar claro:

• Para que o financiamento DIP será utilizado;

• Porque ele é necessário dentro do projeto de reestruturação;

• Qual o montante necessário para que o plano seja exequível;

• Qual o impacto desse financiamento no fluxo de caixa;

• Como se dará a amortização do DIP, ao longo do tempo.

Quando essas respostas estão bem estruturadas, o financiamento DIP deixa de ser apenas um recurso emergencial e passa a ser parte central da estratégia de reestruturação de empresas em recuperação judicial.

 

O maior risco: o dinheiro entrar e não virar valor

Um dos maiores riscos do financiamento DIP em processos de recuperação judicial é simples de descrever, mas complexo de administrar: o dinheiro entra na empresa, mas não se converte em valor.

Esse é o maior temor do financiador DIP - e um ponto crítico da reestruturação de empresas.

E por que isso acontece?

1. Má gestão e destinação inadequada dos recursos

Sem governança, os recursos podem ser direcionados para iniciativas de baixo impacto estratégico ou até inviáveis. O principal ponto aqui é: O DIP precisa equilibrar urgência (que em um cenário de crise, são inúmeras) e principalmente viabilizar geração de caixa futura. É a imagem da “gota em chapa quente”: o recurso até traz algum alívio, mas não transforma o cenário.

2. Planos baseados em premissas irreais

Premissas super otimistas distorcem projeções e levam o dinheiro para iniciativas que não retornam. É um risco silencioso, porém extremamente comum.

3. Falta de controle e transparência

Ambientes com informações frágeis aumentam assimetrias informacionais — e mercados assimétricos geram decisões ruins. Sem dados confiáveis, a empresa insiste em estratégias equivocadas que queimam caixa.

 

Boas práticas para tornar o financiamento DIP viável

 Para que o financiamento DIP se transforme em fôlego real e geração de valor dentro de um projeto de reestruturação de empresas, alguns pilares são essenciais:

• Diagnóstico profundo

Tudo começa com um diagnóstico profundo da situação da empresa. Sem esse diagnóstico, corre-se o risco de utilizar o financiamento DIP apenas para alongar um modelo que já não se sustenta.

• Transparência e confiabilidade das informações

Outro pilar é a transparência. A qualidade das informações é determinante para o sucesso do DIP Financing.

• Disciplina operacional e financeira

É indispensável disciplina operacional e financeira. Sem disciplina, mesmo o melhor plano de recuperação judicial e o melhor diagnóstico perdem potência.

 

A essência do DIP na reestruturação de empresas

Concluindo, o financiamento DIP (DIP Financing) é um instrumento extremamente relevante para a reestruturação de empresas em recuperação judicial. Ele reorganiza a estrutura de capital, garante liquidez e cria o espaço necessário para que o plano de recuperação seja implementado. Mas, para que funcione, o DIP exige:

• Governança;

• Disciplina;

• Controle de caixa;

• Informação confiável;

• Alinhamento de incentivos;

• Acompanhamento profissional.

 

É exatamente nesse ponto que o papel dos agentes de reestruturação se torna decisivo: conectar estratégia, diagnóstico, financiamento e execução, garantindo que o financiamento DIP realmente viabilize o futuro da empresa, em vez de se limitar a ser apenas mais uma entrada de caixa em um cenário de crise.

 

 

 

Mariana Miranda - Sócia